Aconteceu ontem a já tradicional festa de abertura do Carnaval de São Paulo: o Baile da Vogue. Com tema Pop África, as celebridades, fashionistas e nomes do high society foram recebidos com decoração com esculturas gigantes de animais selvagens misturadas a escudos, máscaras, lanças e outros adereços típicos das tribos africanas. Para a trilha sonora, show do Carlinhos Brown.
O traje para essa festa é gala ou fantasia, e os looks são sempre inspirados no tema da festa e na paleta de cores que é definido anteriormente. Para combinar com o tema África, os tons terrosos predominaram. Quem optou por vestidos de festa, caprichou nos acessórios de cabeça, nos penteados e na maquiagem.
Quem gosta de moda fica ansioso pra ver o que as mulheres escolheram nesses eventos de “red carpet”, que são sempre sinônimo de luxo, beleza e ousadia. Pra mim, as mais belas foram a Taís Araújo, que era a rainha do baile e honrou o título, Glória Maria, que ostentou pernas lindas sem meia-calça (e sem medo de críticas por conta da idade), a Sophia Abrahão e a Rafa Brites, que usaram estampas étnicas e acessórios lindíssimos!
Mas, nesses eventos também é comum aparecer alguma polêmica, e nesse não foi diferente. Como a revista não costuma trazer mulheres negras na capa (e nem na maioria das matérias), e a maior parte das convidadas (como em outras festas desse tipo, como o Oscar) eram de mulheres brancas, a polêmica foi sobre o tema ser África e a festa ter pouca representatividade de negros. Além disso, teve apropriação da cultura negra e até mesmo blackface.
A Karla Lopes, que também é colunista do Superela, postou num grupo do Facebook a sua indignação com o seguinte comentário: “Eu fico mal de verdade com isso. Se fosse um negro com cabelo de dread, seria sujo. O cabelo crespo de uma mulher negra sofre preconceito todos os dias. Mas aí, no grande baile da Vogue é fantasia, é temático! Será que é legal adotar como tema algo que é renegado pela sociedade? Que não é reconhecido como ‘bonito’ pela maioria das pessoas? Foi o que eu disse outro dia: Todo mundo gosta das coisas de preto, até saber como é ser preto e viver, de verdade, como um preto pobre e favelado”.
A Karla queria escrever sobre o baile, mas infelizmente ela está com o braço imobilizado. E foi ela que me lembrou do caso da Zendaya no Grammy 2015, que foi chamada de “suja” pelo pessoal do Fashion Police por causa dos dreads.
Esse texto não é sobre racismo, esse é um tema muito importante e deve ter tratado com mais profundidade, mas é impossível deixar passar batido o fato de as mulheres negras sofrerem tanto preconceito e virarem fantasia numa festa onde as possibilidades de fantasia eram inúmeras, visto que a moda africana é referência por sua alegria, mistura de cores, estampas étnicas e de animal print, texturas (como pelos e peles) e acessórios. Ninguém precisa “se fantasiar de negro” para estar dentro do tema África. Não tem só negros na África, né? E mesmo que fosse, blackface não é fantasia, é racismo. E no Baile da Vogue, tiveram brancos de dread, de turbante (que eu amo, e é um dos maiores simbolismos culturais africanos), encrespando o cabelo e se pintando com tinta negra, para “se fantasiar” de negra.
O Baile da Vogue já passou, mas se um dia você for convidada para um baile com o tema “África”, seguem algumas inspirações de looks pra você usar – como roupa de gala, e não como fantasia!
Texto meu, publicado originalmente no Superela, aqui.
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